quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma Longa Queda

Uma Longa Queda (2005), é o quarto romance de Nick Hornby. Nesse livro ele trata de um assunto um tanto delicado e polêmico: suicídio.

Sendo contextualizado em Londres, o livro conta a história de quatro personagens que se encontram por acaso no topo de um edifício, na noite de ano novo, para se suicidar.

Decididos a se suicidar, mas sem o clima necessário, eles resolvem fazer um pacto: se encontrarem daqui alguns meses naquele mesmo lugar e se alguém ainda tiver um motivo, ou realmente achar que é o melhor a ser feito, pulará do edifício.

Assim se forma o grupo dos quatro, como eles mesmos se denominarão.

A história é contada em primeira pessoa, intercalando o ponto de vista de cada personagem, assim como suas vidas em paralelo. Hornby utiliza esse recurso com maestria e consegue que o leitor entre em cada personagem.

Sua grande sacada está em retrarar os quatro de forma realista, fazendo com que, independente do momento da sua vida, você se identifique com algum deles. Senão com todos, em diferentes momentos.

Os personagens são: Martin, um apresentador de televisão que viu a carreira desabar depois de se envolver em um escândalo; Maureen, uma senhora solitária cuja vida se resume a cuidar do filho que há quase duas décadas se encontra em estado vegetativo; JJ, um músico americano fracassado que sobrevive entregando pizzas; e Jess, uma adolescente desequilibrada el filha de um ministro.

Com seu estilo despojado e descontraído Hornby nos mostra um outro caminho, sem ser tradicionalista ou comum, ele coloca diálogos na boca das personagens que você jurará que já aconteceu com você em algum momento, com amigos, em algum lugar.

A ideia era escrever um livro sobre depressão sem ser depressivo, ele consegue.

Ainda há espaço para humor, muito bem feito por sinal, sarcasmo e ironia. Não esperem o melhor livro de Hornby, nem uma revolução, mas sim um ótimo livro, que deve ser lido pelo prazer da leitura.

Trecho:

“(…) - E se a gente tivesse visto alguma coisa?

- Tipo o quê? O que deveríamos ter visto?

- Que tal se a gente tivesse visto um anjo?

- Um anjo - disse JJ sem acreditar.

- É.

- Eu não vi anjo nenhum - disse Maureen. - Quando você viu um anjo?

- Ninguém viu anjo nenhum - expliquei. - Jess está propondo que inventemos uma experiência espiritual para ganharmos dinheiro.

- Que horror - disse Maureen, pelo menos porque era claramente previsível que ela reagisse dessa forma.

- Não é exatamente uma invenção, é? - disse Jess.

- Não? Em que sentido de fato vimos um anjo?

- Como se chama isso em poesia?

- O que foi que disse?

- Você sabe, nos poemas. E na literatura inglesa. Às vezes se diz que alguma coisa é igual a alguma coisa e às vezes se diz que alguma coisa é alguma coisa. Você sabe, meu amor é como a porra de uma rosa ou, outra coisa qualquer.

- Símiles e metáforas.

- É. Exatamente. Foi Shakespeare que inventou esse bagulho, não foi? Por isso ele era um gênio.

- Não.

- Então quem foi?

- Deixa para lá.

- Por que Shakespeare foi um gênio? O que ele fez?

- Outra hora falamos sobre isso.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário